segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

EU & JERRY ADRIANI

Nos cinco anos que toquei com Jerry Adriani - um dos melhores cantores que já ouvi - colecionei situações demais engraçadas. Como aconteceu em Manaus. Lembro que nossa comitiva de 5 pessoas embarcou em Cumbica às 3 da madrugada e descemos no Amazonas sob os primeiros raios solares alertados para o fato de que nosso contratante era o mandão da cidade, o “bom”, o mais importante e tal. E que deveríamos tratá-lo com a maior seriedade possível justamente pela posição que o fulano ostentava. Vamos aqui chamá-lo simplesmente por F, mas tão logo fomos recepcionados na ala de desembarque do Aeroporto Internacional Eduardo Gomes comprovamos que o cara era respeitável mesmo, além de muito gentil. Estava com alguns acompanhantes que logo percebi serem policiais federais à paisana. Seu porte físico, embora quase cinquentão, com um perfeito bronzeado, bem penteado e nada de barriga, chamava a atenção das pessoas conforme nos dirigíamos até os veículos que nos aguardavam. Com cargos proeminentes na política local, o F acumulava a direção de várias casas noturnas (em uma delas seria nosso show à noite) além de restaurantes, postos de gasolina, lojas e fazendas. O F era o maioral afinal.
   Antes de nos dividirmos nos reluzentes carros importados, o F sugeriu de imediato um passeio pela cidade, proposta declinada pelo Jerry, pelo guitarrista e pelos nossos dois acompanhantes de SP, todos alegando cansaço, preferindo a cama do hotel. Eu gostei do convite e aceitei o passeio turístico com o F. Afinal era a minha primeira visita ao Amazonas e queria aproveitar cada minuto.
    Nossa primeira parada foi justamente no local do show, onde aproveitei para montar o teclado, checar os microfones e o som. Após umas voltas pela cidade, o F disse que tencionava depois levar todos os paulistas para almoçar em um restaurante turístico situado no meio da selva amazônica, mas antes quis me apresentar sua família e seguimos para sua magnífica residência nas cercanias de Manaus. Na porta fomos recebidos por uma beldade nos seus 20 anos que a princípio julguei ser sua filha. Qual não foi meu espanto quando a apresentou como sua esposa e logo em seguida me vi em frente a duas crianças, seu filhos. O amor é lindo. Eu na época também namorava seriamente a Paula*, uma adorável universitária, 25 anos mais nova que eu.
    Lá pelas duas da tarde fomos ao hotel buscar Jerry e seus dorminhocos para o almoço no famoso restaurante.
    Naqueles dias o Jerry Adriani atravessava uma fase de ressurreição devido à ótima repercussão do disco “Elvis Vive”, no qual participei como pianista. Sempre sob os holofotes da mídia, com entrevistas no Jô, Faustão e grandes audiências, o Jerry costumava salientar sua recente separação conjugal. E a conversa inicial ali na mesa do restaurante amazônico (F, alguns “nativos”, e nós de SP) foi justamente essa:
    - E aí, Jerry? Ficamos sabendo que se separou da mulher, o F perguntou.
    - É isso aí. Infelizmente aconteceu. É difícil conviver muito tempo junto e blábláblá (O Jerry não pára quando começa a falar).
    O F continuou:
    - E agora,alguma namorada?
    - Sabe como é... estou namorando uma zinha lá em SP. Mas a diferença de idade é o problema. Ela é muito nova e...
    Eu o interrompi prevendo o atalho desagradável que a conversa tomaria. Até então eu era o único que sabia da situação conjugal do F.
    - Jerry, chega de papo, olha o nosso prato chegando. Que delícia..., falei.
    E o Jerry:
   - Chega por que? Você adora interromper quando estou falando. Deixa eu conversar com o F, pô!
   E emendou:
   - Então F, fui me envolver com uma “garota” de 25 anos. Além de pagar sua faculdade tenho que ouvir aquele papo de baladas e outras babozeiras de gente mais nova que nós. Agora sou de opinião que o homem tem que conviver com uma mulher no máximo 2 anos mais nova que ele, para não chocar culturas, gostos e tudo o mais...
    O F tentou descontinuar:
    - Mas, Jerry. Eu ....
    O Jerry não parava:
    - Inclusive daqui uns vinte anos estarei chegando aos setenta e ela por sua vez ainda estará à toda. Vai ser chifre pra todo o lado e...
    O F pigarreou e eu tentei mais uma vez ajeitar o clima:
    - Pô, Jerry. Não é tanto assim. A idade não é tudo. Às vezes o relacionamento dá certo. Conheço muitos casais nessa situação e vivendo muito bem.
    - Que nada, ô inocente! Você está na mesmo situação com a Paula. Ela é muito legal, mas você tá perto dos cinquenta como eu e ela ainda vai fazer 25!
    Daí aumentou seu vozeirão barítono chamando a atenção de todos no restaurante para a sua presença. Um artista na verdade.
   - Olhem aí, meu pianista. Vai fazer cinquenta e tem uma namorada de 25. É o fim da picada.
   Em seguida, voltando-se para o F:
   - F, você é casado?
   - Sou.
   - Então ensine o incauto Maurício. Qual a tua idade.
   - 49
   - E da sua senhora?
   - 21
   E o Jerry com cara de tacho:
   - Bem... Nesse caso tudo bem... é que... o Maurício...pô ... bem...50... 25...
  Todo fizeram um esforço tremendo para engolir as risadas.
*Embora nada relacionado com esse caso, quando depois gravei “O Boogie do Milênio”, meu primeiro CD solo, encaixei propositadamente charadas com pistas nos títulos e nos sons de algumas das faixas. Se o ouvinte prestar atenção, perceberá por exemplo que o titulo da música “Peacefully After Underaged Love Affair” (“Tranquilo após um caso amoroso de baixa idade”) tem suas iniciais formando o nome Paula.
No vídeo, com o American Graffiti ( Jacaré, Sergião, Theo, Alaor e eu).

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