sexta-feira, 19 de agosto de 2011

VIDA DE MÚSICO 4


Eu sempre fui um músico instrumentista, dando do melhor nas notas para esse ou aquele cantor, cantora, ou outro solista, posição que muito me orgulho. Mas a maioria dos leigos e sua carência de informação, distração, falta de finesse ou até educação, não dá o devido valor ao importantíssimo papel dos músicos. A platéia não está nem aí com quem está acompanhando o cantor. Se os caras da banda são bons ou não. A vida mostra que os músicos sejam talvez um dos poucos profissionais que adquirem e mantém seu próprio uniforme e a ferramenta de trabalho, o sempre caro instrumento musical que leva todas as suas míseras economias.

    Se você atentar no meio da página 30 da última edição do meu livro “Elvis.Mito & Realidade” lerá o óbvio, ou seja, que a maioria das pessoas pensa que era o próprio Elvis Presley quem executava os magníficos solos de violão e ou piano, uma vez que ele vinha apoiado por mestres desses instrumentos, mas que muitas vezes ficavam escondidos, às escuras ou sem muita badalação.

    D.J.Fontana, o primeiro baterista de Elvis, esteve aqui em casa em São Paulo e nos contou da própria boca os que escrevo abaixo.

    No auge do estrelato nos anos 50, Elvis era acompanhado por um quarteto vocal, os Jordanaires, e por um trio instrumental, os Blue Moon Boys, com Scotty Moore na guitarra, Bill Black no grande contrabaixo acústico e D.J. na bateria. E os três músicos foram pra rua na única ocasião em que reivindicaram um aumento no cachê. Não era grande o talento musical do contrabaixista Bill Black, mas sua presença de palco compensava. Ao contrário do introvertido guitarrista Scotty Moore, Bill Black dançava, cantava, gritava, sentava no grande instrumento como se estivesse cavalgando, o que muito contribuiu para a desenvoltura de Elvis Presley no início de sua carreira.  Quantas não foram as vezes, no início de tudo, em que o contrabaixista se via na obrigação de animar o show, quando a figura e trejeitos inusitados de Elvis Presley não eram aceitos por algumas platéias. A técnica de slap de Bill Black no baixo acústico, sua pegada, é lendária, e muitos ainda hoje tentam imitá-lo, além do seu senso de humor, divertindo a todos nas viagens e gravações.

    O Coronel Parker, o emblemático e eterno empresário de Elvis, certa vez ordenou para que o contrabaixista não fosse tão aparecido no palco:

    - Menos, Bill, menos. O artista é Elvis!

    Bill Black já se aborrecera antes com o Coronel, quando soube que o empresário gargalhava repetindo sempre piadas de contrabaixistas:

    - Sabe qual é a diferença entre um contrabaixo e um caixão? No caixão o defunto fica do lado de dentro! Ah Ah Ah Ah!

    - Sabe quantos contrabaixistas são necessários para trocar uma lâmpada? Nenhum. Porque o pianista pode fazê-lo com sua mão esquerda (que faz a linha grave no piano)! Ah Ah Ah Ah!

       Nunca deixe de valorizar o instrumentista atrás do cantor. Apesar de o holofote não estar dirigido a ele, o violonista, tecladista, pianista, vocal de apoio, baixo, bateria, a orquestra enfim, todos sustentam verdadeiramente o show, muitas vezes cobrindo erros e falhas daquele que você julga ser o único que leva o espetáculo. Sabemos que no ser humano existe uma herança genética de animais primitivos: as galinhas entusiasmadas com o másculo canto do galo anunciando a alvorada ou a pavoa hipnotizada pelo orgulhoso pavão exibindo sua cauda extravagante, digna de um Clovis Bornay no Copacabana Palace nos folguedos de Momo. Mas acredite nas minhas palavras porque, embora eu particularmente não necessite de elogios ou outros bla-bla-blas, pois estou há anos ali sobre o palco no apoio aos gorgeadores, sempre existirão jovens músicos que merecerão tanto quanto o bonitão na frente que está segurando o microfone.


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