terça-feira, 20 de setembro de 2011

CAUBY & EU

    Cauby Peixoto. O maior cantor brasileiro na minha opinião. Desde pequeno, minha mãe fazia questão de me mostrar seus discos, seu domínio vocal e musical. Ele estava no auge de sua carreira. Confesso que sonhava um dia tocar com ele. Poder acompanhá-lo ao piano seria o máximo.
O ano foi 1983. Foi na Alameda Jaú, entre a Augusta e a Padre João Manuel, nos Jardins. Hoje é um condomínio de luxo. Mas ali na época era "O Ponto", uma badalada casa noturna que costumava proporcionar shows de cantores e cantoras famosos. Uma vez por semana, a casa apresentava o grupo musical American Graffiti, na já famosa "Noite da Mulher". Eu tocava piano no Graffiti e, coincidentemente numa noite daquelas, o Cauby veio assinar um contrato para um show na casa. Não me contive e,no intervalo, corri aos escritórios para conhecê-lo pessoalmente e contar todo meu xodó, que tinha seus discos, que conhecia de cor as suas gravações e blá blá blá. Eu sabia que ele era acompanhado nos shows pelo maestro Juarez Santana, um pianista de renome internacional, mas revelei que se um dia ele cantasse pelo menos uma música comigo o acompanhando, eu nunca mais tocaria piano. Eu teria chegado ao apogeu! Eu havia tocado com o grande Cauby Peixoto! Dali por diante ficaria só na Odontologia!
Ele sorriu.
O Graffiti voltou para o segundo set. Subimos ao palco. Mas antes que iniciássemos, o mestre de cerimônias anunciou a grande atração da próxima semana. A platéia que lotava a casa aplaudiu delirantemente enquanto Cauby chegava ao microfone para divulgar sua futura apresentação.
De repente percebi que eu estava sozinho. O pessoal da banda e o mestre de cerimônias haviam descido. No palco, apenas Cauby Peixoto, o microfone, eu, e o grande teclado Fender Rhodes.
Escuto o vozeirão do Cauby:
- Pessoal, não vim hoje aqui para cantar, e sim a negócios. Mas ao meu lado (apontando para mim) está um grande apreciador, e de agora em diante meu amigo, com quem faço questão de cantar uma música! Agora! Sem ensaio.
A casa quase veio abaixo tamanha a ovação e gritos de “Canta!” ,“Canta!”.
Virou-se para mim:
- Qual música quer tocar?
Embora surpreso (mas envaidecido), eu não era iniciante nos palcos. E respondi de imediato:
- Conceição!
E ele:
- OK, maestro, vamos lá!
Eu perguntei o que qualquer músico perguntaria:
- Mas... qual tom?
Ele ironizou:
- Tom? Tom? Qualquer tom, professor. Vai tocando que eu passo por aí.
Dei a introdução da música em Dó maior (o tom mais fácil que a gente costuma sair tocando) e o Cauby esbanjou a interpretação do seu grande e maior sucesso.
Foi minha consagração. Realizei mais um sonho.
No final, ainda sob ruidosos aplausos, o saudoso Théo, baixista do Graffiti veio até mim e brincou:

- Voce prometeu parar se tocasse um dia com o Cauby. Então cumpra a promessa e deixe a gente escolher um pianista bom... rsrsrsrs

2 Comentários:

Às 16 de maio de 2016 às 20:57 , Blogger Pituca disse...

Que coincidência maravilhosa, saindo do enterro do inesquecivel idolo e amigo cauby peixoto,mee lembrei com saudade do juarez e, procurando-o no google, acho seu post e blog. Passei o dia todo querendo lembrar do nome do O Ponto, onde iamos todas as vezes que o cauby la cantava. Bons tempos. Ha! Tbm sou de mogi mirim

 
Às 19 de janeiro de 2017 às 05:21 , Blogger capranós disse...

Que bacana. Alguém tem o paradeiro ou o contato do maestro Juarez Santana?

 

Postar um comentário

Assinar Postar comentários [Atom]

<< Página inicial