quinta-feira, 13 de outubro de 2011

BOOGIE WOOGIE

O Boogie-Woogie

                                                              No final do século XIX e nos primeiros anos do XX, o blues gerou um estilo instrumental no piano ao qual deram o nome de boogie-woogie. Essa moda ritmada atingiu seu ápice na Segunda Guerra, ocasião na qual era apresentada incessantemente nas rádios, shows, filmes, desenhos animados e trilhas sonoras. Pianistas de todos os cantos do planeta o tocavam. Até populares pianistas de música clássica como Jose Iturbi e Oscar Levant tinham pelo menos um boogie woogie no repertório e apresentavam nos musicais de Hollywood. A maioria dos renomados band-leaders procurava novos boogies para salientar seus pianistas na orquestra. Nas suas formas mais comerciais foram acrescentadas letras para se produzir temas bem populares. Chegou a ser condenado por iniciar a delinquência juvenil embora Frank Sinatra tenha sido um de seus defensores. O célebre pianista Fats Waller o detestava tanto, que determinava para não incluirem boogie woogie em seus shows. Elvis Presley recebeu um solo tipicamente boogie na faixa One Sided Love Affair”, do seu 1º álbum, e o presidente Harry Truman, pianista de jazz nas horas vagas, trouxe Albert Ammons, um dos maiores expoentes do boogie, para tocar na cerimônia de sua posse. O premiado pintor abstrato Piet Mondrian, um apaixonado pela agitação de Nova York, denominou sua última obra de “Broadway Boogie Woogie”. Ray Charles e Jerry Lee Lewis tiveram seus primeiros contatos com o piano ouvindo boogie woogie. Aqui no Brasil, entre outros sambas/boogie, nosso saudoso sambista Ciro Monteiro teve o seu “Boogie Woogie na Favela”.
    Na década de 1930, a forma de tocar o boogie woogie acabou tomando dois caminhos:
- Um manteve seu contato com o blues e direcionou o rhythm&blues, o rock’n’roll e até as interpretações dos guitarristas das blues bands dos anos 1950 e 60.            
- O outro removeu gradualmente o boogie woogie do blues para um meio orquestral que várias bandas de baile o adaptaram para tal.
Enquanto o primeiro forneceu combustível, o segundo, com exceção de algum “fogo de palha”, levou o boogie woogie para um beco sem saída onde ele foi sumindo, vítima da exploração e saturação.
                    
                                            Os primeiros pianistas de boogie woogie entretinham trabalhadores que devastavam o madeiramento para a plantação de algodão. Um dos alojamentos nos acampamentos funcionava como salão de dança, para jogo de dados e meretrício. Eram os barrelhouses, os honky tonks, “mobiliados” pela própria empreiteira com um piano e bebida. Os jogos de dados começavam nas tardes de sábado e iam até a manhã da segunda-feira. Geralmente esse barrelhouse era colocado sobre um vagão de trem e seguia junto para o novo local de trabalho. Dizem que o maior significado do boogie woogie na historia do jazz é a sua imitação do ruído do trem em movimento que para o negro simbolizou sempre a fuga para a libertação.
    Quando mais tarde o boogie woogie invadiu as cidades, os pianistas eram contratados para as house-rent parties onde se cobrava ingresso para arrecadar o dinheiro do aluguel do imóvel. Esses “bailinhos” domésticos nas noites de sábado, originários dos estados sulistas, ficaram comuns em Chicago, Kansas, St. Louis e Detroit e os músicos ganhavam além da bebida, no máximo meio dólar de cachê. Em St. Louis por exemplo, essas reuniões denominavam-se buffet flats, pagava-se ½ dólar para entrar, comer carne de porco, encher a cara de bebida ilegal e falsificada e dançar a vontade. O pianista dominava o ambiente e geralmente tocava por instinto, repetindo fragmentos de melodias tiradas de outros pianistas profissionais. Casais projetavam sombras grotescas num fundo mal iluminado por lâmpadas roxas e azuis. Ouviam-se gritos, gemidos, cantos rouquenhos. A musica era lânguida, mas logo se tornava ruidosa e contagiante à medida que avançava a madrugada. Possuídos de verdadeiro frenesi, bailarinos e bailarinas executavam estranhos passos de dança num ritmo desenfreado e enlouquecedor, movendo o corpo inteiro.
    Fruto desses "dias negros" é a música "Pine Top's Boogie-Woogie", de Pine Top Smith, que tem servido de modelo a outras paginas melódicas concebidas no gênero.
    Essa 1ª geração de pianistas de boogie woogie evidentemente indicava que o estilo não era dirigido para a classe alta. Era primitivo e nada sofisticado, feito para gente das camadas mais baixas, cafetões e prostitutas. Disseram até que seria a ovelha negra do jazz e que aquele que não tivesse algum estudo musical saía por aí tocando o boogie woogie de ouvido. Até hoje se acredita que todo boogie woogie soa igual, ou seja, por demais simples em sua execução. Mas é uma falsa sensação.

                                           Em 1938 e 39 ocorreram três eventos que tiraram o boogie woogie de seu habitat e o apresentaram as platéias sofisticadas de badalados night clubs dos grandes centros urbanos. Tocando em Chicago, Albert Ammons, Meade Lux Lewis e Pete Johnson, pianistas com uma maior riqueza sonora, harmonias mais complexas e execuções mais precisas, foram incluídos para apresentar o boogie woogie em dois shows denominados “Spirituals to Swing” do Carnegie Hall de Nova York.
E logo após a 1ª apresentação já foram contratados, juntamente com Joe Turner, pelos badalados Cafe Society Nightclubs, luxuosas boates cujos shows ao vivo eram transmitidos pelas ondas do rádio.
    Ammons e Johnson juntamente com Lena Horne e a orquestra de Teddy Wilson apareceram em Boogie Woogie Dream, um curta-metragem rodado no próprio Café Society Downtown, no Village, ofuscando uma cantora que também se apresentava por ali – Billie Holyday.
    O boogie woogie e seus três mais famosos expoentes receberam o total apoio da mídia e ficaram reconhecidos nacionalmente. Tudo isso devido a mais uma iniciativa do escritor, crítico e “socialite” nova-iorquino John Hammond, que passou a produzir discos na multinacional Columbia, dedicando todo seu tempo a defender e a promover a música dos negros.

                                          Desde os anos 1930 e início dos 1940, uma 2ª geração de pianistas de boogie woogie que inclusive tocavam com grandes nomes do jazz e das bandas de swing , emergiu com um trabalho que contribuiu significativamente para a elegância e virtuosidade desses instrumentistas. Foi o caso de Bob Zurke e Freddy Slack, pianistas brancos que se salientaram após serem influenciados pelos negros originais. Orquestras famosas como as de Benny Goodman , Woody Herman, Count Basie e Harry James já estavam apresentando boogie woogie e a orquestra de Tommy Dorsey, com um providencial arranjo de “Pine Top’s Boogie Woogie” em 1938, levou o estilo em caráter nacional às rádios e em shows.
    E embora na década de 1940 o boogie woogie já fosse conhecido no mundo inteiro, o final dela determinou o início de uma fase comercial e pop do estilo. Foi quando uma 3ª Era do boogie woogie surgiu com pianistas brancos das orquestras começando a apresentá-lo além de os seus limites estruturais do blues. Tivemos então Maurice Rocco, Derick Sampson e agora, no século XXI surgem vários músicos na Europa apresentando um revival, entre os quais fui incluído como MORRIS BRITT que, solando temas clássicos ou sucessos do momento com a mão direita, podemos tentar a habilidade em encaixar o baixo do boogie woogie com a esquerda.


sexta-feira, 7 de outubro de 2011

“Cry Piano” – Meu Segundo CD solo

 

   
    A ótima repercussão do anterior O Boogie do Milênio nos levou a entendimentos com a produção européia na tentativa de uma liberação do nome Morris Britt para novos lançamentos por aqui. Assim sendo, e seguindo a diretriz do primeiro disco, apresentamos em 2006 o CD Cry Piano, que trouxe mais temas internacionais com vocais, piano, orquestra e coral. A idéia da faixa título “Cry” do disco surgiu do privilégio de poder ter presenciado shows de vários nomes famosos, inclusive Elvis Presley em São Francisco na Califórnia. Mas eu contava apenas 11 anos de idade quando vi pela primeira vez um grande astro internacional ao vivo. Foi no palco do enorme, e hoje extinto cine Arlequim em São Paulo. O cantor era Johnny Ray, um cara que cantava se descabelando e arrancava um berreiro histérico das mulheres na sua interpretação dramática de “Just Walk’ in the Rain”, “I Will Never Fallin’ Love Again” e principalmente... “Cry”.
    - O tema “Laura Lee” foi vocalizado pelo guitarrista/cantor/compositor/produtor Gilberto Gibba Gouveia, companheiro por 20 anos nas bandas American Graffiti e Blues Band Five.
    - Em "Honky Tonk (partes I e II )” o covidado foi o guitarrista Afonso Villano, com quem já havia participado no disco campeão de vendas The Jet Blacks Remembers The Shadows & The Ventures.
    - Para a famosíssima "Love Is All”, além do histórico contrabaixista Nenê, do Marcelo Torres no trumpete e um original coral feminino, apresentamos nada menos que o vozeirão do Pr. Nick Oros (aliás, Nicolau Oroscink), vencedor do primeiro grande evento para a escolha do Melhor Intérprete de Elvis Presley.
    - “Volare” aflorou após um momento de descontração no estúdio com Tony Campello, pioneiro do rock’n roll no Brasil.
    - Laís Branco, amiga de vários anos, sempre ao lado do piano nas minhas apresentações, juntamente com o gaitista Fabinho Siqueira, complementaram uma versão da imortal “Stardust”.
    - “Steamroller Blues”, o vibrante blues que Elvis apresentou no seu show do Havaí está no disco com o baixo do Nenê, a guitarra de Ricardinho Melchior, um coral feminino e a vocalização do grande Davi Dinho Assad, um dos primeiros intérpretes de Elvis no Brasil, com quem apresentamos música ao vivo em plena Catedral de São Paulo, por ocasião da missa de sétimo dia em homenagem a Elvis.
    - Um dos mais belos temas de George Gershwin, “Summertime”, está neste disco executado pelo jazzista Marcelo Torres no trumpete.  
    - Em “Don’t Put No Headstone on My Grave”, com Nenê no baixo, Ricardinho Melchior na guitarra, e o vocal de Rogério Maçan, procuramos dar um toque ao piano bem no estilo Jerry Lee.
    O disco ainda apresenta os temas “Tributo a Earl Grant (Eu era Feliz e Sabia)”, “ Smoke Rings”, “Try A Little Tenderness”,              “Dah Dah Bop”, “My Echo, My Shadow & Me”, “Cidade Vazia” e uma apresentação supresa da minha própria mãe Beatriz cantando “Chão de Estrelas”.

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Karaokê? Simples playback? Não! Um trabalho artesanal!


Entre as inúmeras vantagens e diferenças do teclado/arranjador sobre o frio karaokê é que a música fica personalizada! Tocamos o piano ou instrumento solo ao vivo sobre o playback, criando o clima da hora, com interpretação sempre diferente. Mas muitos desconhecem como é produzido meu som instrumental no teclado/arranjador VA-3, um instrumento único que reproduz os mais variados instrumentos quer nas gravações, quer ao vivo nos palcos. Como dizem, uma verdeira orquestra. A Vorchestra

    Esse playback, esse acompanhamento, na grande maioria das vezes é pré-programado no próprio teclado, que o grava e depois o reproduz. Um árduo trabalho artesanal. Os instrumentos bateria, baixo, guitarra e os mais sofisticados como metais e cordas, são gravados nota a nota, um a um, como se todos os músicos estivessem no estúdio. A bateria, inclsive, que é um instrumento composto de várias peças (bumbo, surdos, pratos, caixa etc.) é gravada suas peças uma a uma, separadamente.
    Dessa forma, ao contrário do simples e “estático” playback de karaokê, temos a possibilidade de afinar, mudar o volume, o timbre, a tonalidade e o andamento da música conforme a conveniência do momento ou do cantor que acompanhamos. É uma mesa de som dinâmica e virtual, à disposição.

    E tem mais. Podemos produzir o background de uma música ainda inédita, ou de alguma que não exista seu playback à disposição.





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segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Meu primeiro Cd solo - O Boogie do Milênio




SOBRE   O  CD  “O BOOGIE DO MILÊNIO”

                                                                                                       
O que falar do Blues? Blues é sinônimo de emoção, que vem do fundo do coração e da alma. Para o músico de blues é quase que uma filosofia de vida. Ele toca com vontade, se integra realmente com o espírito do blues e consegue assim transmitir a quem ouve uma energia muito forte e contagiante, ou seja, a verdadeira essência do blues.
O boogie woogie veio do blues e carrega este lado fundamental do verdadeiro intérprete do blues...o sentimento, algo que não se aprende na escola mas que será cultivado por toda a vida, toda vez que esse estilo for tocado.
Certo dia um casal estrangeiro se entusiasmou com meu estilo blues/boogie no piano e fui convidado a gravar um CD para ser lançado na Europa. Me apelidaram Morris Britt e realmente o projeto acabou fazendo muito sucesso por lá. Lançado no ano 2000 inventaram um trocadilho sugestivo para o título do disco – O Boogie do Milênio - e uma tiragem limitada chegou por aqui. Não existe nas lojas brasileiras, mas continua amplamente utilizado nas palestras culturais, sonorização de comerciais de rádio e TV e aulas para estudantes de jazz.
Sempre apreciei tocar o boogie woogie. Pesquisei muito e nas palestras explicamos tratar-se de um estilo basicamente instrumental, geralmente ao piano, e que teve seu apogeu nos anos 1930 e 1940. Os pianistas de blues o utilizavam para melhor animar os ouvintes, graças à levada constante da mão esquerda, deixando a direita livre para solos e improvisos.O blues agitado ( rhythm and blues ) que é o boogie woogie, que por sua vez teve papel fundamental na origem do rock’n roll, se apóia em acordes naturais que  costumam proporcionar uma sensação de falsa simplicidade, ou seja, quem ouve julga ser fácil de tocar mas se complica quando senta ao piano. Daí então “O Boogie do Milênio” é o típico Cd que, apesar de seu clima nostálgico e ao contrário de muitos, quanto mais se ouve, mais se descobre sons e novidades e, consequentemente, passa-se a apreciá-lo melhor.

Faixas boogie do CD “O Boogie do Milênio” :

- Del Boogie - uma adaptação do célebre baião brasileiro “Delicado” e que entusiasmou ao produtores para a elaboração do disco.

- C. Cow Blues - uma versão de “Cow Cow Boogie”, tema  de um curta-metragem que apresenta uma crioulinha cantando no faroeste .

- Beat Me Daddy, Eight to the Bar - conta a estória de um pianista que enlouquece a platéia com seu toque e ninguém fica sem dançar. Lá no Texas “beat me daddy” é uma gíria que significa “manda ver!”, ”é isso aí!” e “eight to the bar” é como os músicos brancos chamam o boogie woogie.

- In ‘C’ Dental Boogie - um boogie woogie típico.

- Bumble Bee Boogie - versão boogie do clássico russo “O Vôo da Abelha”.

-  Uncle Asdrubal’s Boogie Lesson – outro típico boogie woogie..

Bonus Tracks:

-  Nature Love Call  - novo arranjo da original “Indian Love Call ”.

- These Remind Me of 1962 - é uma homenagem encima de “I’ll Touch A Star” onde encaixamos trechos de temas consagrados como “The First Hurt”, “O Vento Levou” e “Stardust”.

- Peacefully After Underaged Love Affair - um blues/country com solo/improviso do piano lembrando o saudoso Ray Charles.

-  Ghost Riders in the Sky – uma versão vibrante de “Cavaleiros do Céu”.

-  Blues on Mogi River – um extenso blues .

-  Whispering- um antigo sucesso na moda dos anos 1960.

-  Let’s Go – moderno cover do sucesso de Floyd Cramer

-  E>Z St. – adaptação do blues pesado “Easy Street”.

-  Jealowist – uma versão twist de Jalousie”, famoso tango francês

-  What’d I Say – versão instrumental do sucesso de Ray Charles.

mauriciocamargobrito@hotmail.com