Meses antes do advento do programa Jovem Guarda da TV Record, eu era guitarrista dos The Mooners e fomos contratados pela toda poderosa Rádio Tupi. Seríamos o grupo efetivo do “Esquema Novo”, um programa musical dirigido pelo Atílio Riccó (depois um renomado diretor de novelas, hoje na Europa) e a ainda não atriz Débora Duarte. Era apresentado nas tardes das quartas e sexta-feiras.
Bastou tocarmos o primeiro tema e o badalado radialista Hélio Ribeiro manifestou-se no ar:
- “Estou deveras impressionado com esses meninos. Quero sugerir aqui no microfone para que nacionalizem, que traduzam o nome do grupo. Daqui por diante, por que não OS LUNÁTICOS ?”.
Nas semanas seguintes, o programa passava também a ser transmitido diretamente das quadras esportivas de colégios da capital, reunindo grandes nomes da música jovem. Foi assim que consolidei a experiência em acompanhar astros e estrelas da música, como os irmãos Albert e Meire Pavão, Adilson Ramos, Vanderléia, Dick Danello, Erasmo Carlos e... Rosemary.
Rosemary,...ahhhh... Rosemary, mais conhecida como a fada loura. Linda mesmo! Numa daquelas tardes na porta da Tupi, ali no Sumaré, cheguei para o programa dirigindo um reluzente fusquinha. Meu glorioso tio Asdrúbal emprestara o carro para minha mãe e eu estava no volante uma vez que havia acabado de receber minha CNH. Eu estava no volante e no auge! Naqueles dias, um garotão dirigindo sentia-se o maioral. E para completar, a Rosemary, toda faceira, sugeriu que antes do programa eu desse uma volta de 10 minutinhos de carro com ela, para comemorarmos a CNH(?!). Imaginem só. Eu com uma loiraça de fazer português errar no troco na caixa de padaria.
Foi só. Após aqueles programas da Radio Tupi nunca mais tive contato com a fada loura.
Quase 30 anos depois, sou contratado como tecladista de um grupo que iria acompanhar a Rosemary no RioCentro. Não é preciso dizer que durante todo o vôo ao RJ, meus companheiros músicos fiacaram ouvindo minha velha estória fusquinha/Rosemary.
- Consegui colocar um avião dentro de um fusca. Nem sei como a Rosemary vai reagir quando me ver. Vou relembrar o caso com ela e ...blá blá blá.
Ao chegarmos em seu luxuoso apartamento no RJ, após um breve papo e apresentações antes dos ensaios, entrei com as lembranças:
- Rose, você talvez não esteja me reconhecendo, mas lembra da Radio Tupi em SP?
- Não muito, ela respondeu.
Eu continuei:
- O progama do Atilio com a Débora..., lembra?
- Não.
- É que..., bem,... eu era dos Lunáticos.
- Quem?, ela retrucou.
- Sim, a banda que acompanhava os artistas.
E ela:
- Engraçado, não me lembro nada disso.
Nessa altura, meus companheiros músicos foram se afastando, tentando conter as risadas.
Eu insisti:
- Lembra? Eu cheguei num Volkswagen vermelhinho. Eu havia tirado minha carta de motorista e você pediu para darmos uma volta no quarteirão e...
Ela interrompeu:
- Realmente não lembro nada disso.
Decidi parar por aí, com receio que ela esquecesse também que tinha um show comigo no dia seguinte.
O que não parou foi a gozação dos meus amigos depois.